BRF diz que deve ter impacto operacional em virtude do Covid-19

Não faltam desafios para a indústria e o varejo diante da crise do novo coronavírus. Para debater possíveis soluções, fortalecer parcerias e alinhar expectativas, a SA Varejo está reunindo em webinars os grandes players do mercado brasileiro. 

A terceira edição do encontro ocorreu dia 23 de abril e contou com a presença de gigantes:

  • Rômulo Dantas, Vice-Presidente Comercial da M. Dias Branco; 
  • Sidney Manzaro, Vice-Presidente de Mercado Brasil da BRF;
  • Celso Renato Dias Ferreira, Diretor-Geral da Cencosud; 
  • Julio Cesar Lohn, Presidente da Rede Brasil de Supermercados e Diretor-Comercial do Grupo Mundial Mix; 

A conversa, que durou um pouco mais de 1 hora, foi extremamente produtiva e trouxe insights excelentes. Ele está disponível integralmente no canal da SA Varejo no YouTube, mas se quiser um resumo com os melhores momentos da discussão, é só continuar lendo este texto!

Confira também: 

O dólar é extremamente importante para a lucratividade da indústria. Como vocês estão lidando com essa variação cambial tão agressiva?

Existem muitos fatores que atuam como pressões de custo para a indústria. Entre eles, um dos mais importantes – e imprevisíveis – é o câmbio. Quando o dólar, a moeda-padrão para as trocas internacionais, fica mais caro em relação ao real, ele beneficia as empresas brasileiras que exportam e prejudica quem importa.

Em teoria, a BRF, que é uma grande indústria exportadora, estaria sendo beneficiada por um dólar em patamar mais alto, ainda mais porque existe uma demanda forte por carne brasileira no mercado internacional. Mas o dólar está tão caro que virou um empecilho para a indústria.

“Estávamos trabalhando com câmbio de R$4,20, R$4,30. Hoje está em R$5,34. Estamos perdendo dinheiro.”

Sidney Mazaro, Vice-Presidente Comercial, Vendas e Marketing da BRF 

Sidney Mazaro, da BRF, explicou o porquê dessa contradição. “Por mais que as exportações sejam beneficiadas, todos os insumos são afetados pelo dólar e impactam diretamente aqui no Brasil. Estávamos trabalhando com câmbio de R$4,20, R$4,30. Está agora R$5,34. Estamos perdendo dinheiro”. Desde o momento em que foi gravado o webinar, o dólar já passou de R$5,40.

Além dos grãos e dos óleos utilizados na ração dos animais, Sidney incluiu também as máscaras e os testes de coronavírus na lista de insumos essenciais para o funcionamento das suas operações. “Todos esses produtos são importados com um dólar mais caro”, complementou.

Queixa semelhante foi feita pelo Vice-Presidente da M. Dias Branco. “O dólar está mais de 30% acima do que foi projetado e isso pressiona as indústrias como todo. Além disso, temos um aumento de custo devido à pandemia que não estava previsto antes. Nós contratamos 500 pessoas adicionais”, afirmou.

Como ficaram os planos de investimento de vocês? E as inovações, continuam em desenvolvimento?

Muitos dos investimentos que estavam nos planos das indústrias e dos supermercados foram afetados pelo coronavírus. Por um lado, o cenário de incertezas freou a abertura de novas lojas. Por outro, a Covid-19 foi um grande impulso para alavancar as operações de e-commerce e a digitalização dos negócios.

Júlio Lohn, Diretor-Comercial do Grupo Mundial Mix, afirmou que o grupo está segurando um pouco a abertura de novas lojas. “Estamos dando passos mais lentos, diminuímos o ritmo das obras, mas têm lojas a serem abertas no segundo semestre”. 

No entanto, Lohn reforçou, também, o compromisso da empresa com o investimento no e-commerce. “Estamos implantando o e-commerce a toque de caixa. Tínhamos um estudo prévio, mas a velocidade foi totalmente diferente. É possível fazer um piloto com 30 dias e algo mais estruturado em 90 dias”.

 “Estamos implantando o e-commerce a toque de caixa. Tínhamos um estudo prévio, mas a velocidade foi totalmente diferente. É possível fazer um piloto com 30 dias e algo mais estruturado em 90 dias.”

Júlio Lohn, Diretor-Comercial do Grupo Mundial Mix

Apesar de ter percebido um crescimento forte no consumo de biscoitos e massas, que são seus maiores produtos, a M. Dias Branco também está diminuindo o ritmo dos investimentos. “Nós revisitamos todos os planos de inovação. Neste momento, cuidar do caixa da empresa é fundamental”.

De acordo com a empresa, a inovação era um dos pilares do negócio. “A categoria de biscoitos e massas têm uma penetração muito grande nos lares brasileiros, portanto o crescimento orgânico é pequeno. É preciso movimentar essa categoria, às vezes, com algumas inovações, alguns produtos diferenciados. A gente reduziu isso nesse momento.”

Já para a BRF, a situação é um pouco diferente. “Temos uma cadeia muito longa. Se eu decidir hoje aumentar a capacidade de produtos derivados do suíno, eu tenho que pensar para daqui a três anos”. 

Por isso, é muito difícil para a BRF, no curto prazo, adequar sua produção às mudanças trazidas pelo coronavírus. “Não dá para, no meio do caminho, eu falar que quero vender mais frango, quero vender mais produtos derivados do suíno. Estamos com o cenário traçado para os próximos 18 meses sem muita alternativa de flexibilizar o processo”. 

Temos visto um crescimento no setor de hipermercados. É algo pontual ou veio para se consolidar?

O varejo tem sentido uma mudança intensa no comportamento do consumidor desde que a quarentena foi iniciada. Algumas tendências que estavam em alta tiveram uma parada súbita, enquanto velhos hábitos, que estavam caindo em desuso, voltaram à cena. Os hipermercados são um exemplo disso.

Antigamente o hipermercado funcionava como uma espécie de passeio para toda a família, principalmente porque possuía um mix muito completo de produtos. Esse comportamento, até hoje, se mantém vivo e forte nas cidades menores e no interior do país. No entanto, os hábitos dos clientes mudaram radicalmente com a pandemia e o isolamento social.

“Hoje a gente vê que o cliente de hipermercado vai sozinho. Vários decretos pedem para que as pessoas se isolem e tenham menor contato. Realmente vai ser um momento novo”, afirmou Celso Ferreira, Diretor-Geral do Cencosud. 

Nos estabelecimentos do Cencosud, o cliente se mostrou mais disposto a comprar coisas prontas e práticas, como os congelados. No webinar anterior em que participaram Ypê, Ambev, Giga Atacado e Verdemar, os varejos relataram experiência semelhante. “A própria promoção está mudando. Agora o cliente quer estocar mais, para ir menos vezes ao supermercado”.

“O hipermercado é um lugar que tem mais espaço, portanto menos contato. É onde você encontra tudo que precisa, então em um lugar só o cliente faz seu mix completo. É difícil falar ainda, mas estamos observando muito as mudanças de consumo.”

Celso Ferreira, Diretor-Geral do Cencosud

No geral, o movimento nos hipermercados tem sido de alta. Ferreira tem uma explicação para o porquê disso: “O hipermercado é um lugar que tem mais espaço, portanto menos contato. É onde você encontra tudo que precisa, então em um lugar só o cliente faz seu mix completo. É difícil falar ainda, mas estamos observando muito as mudanças de consumo”.

Está sendo difícil se adaptar às restrições colocadas pelos governos?

Como apontou Celso, do Cencosud, quase toda semana é publicado um novo decreto relacionado ao coronavírus, seja pelos governos municipais, estaduais ou o governo federal. No varejo e na indústria, as maiores mudanças estão relacionadas às regras de aglomeração, para que os setores considerados essenciais continuem funcionando durante a pandemia.

No geral, as medidas são importantes para garantir a segurança dos clientes e funcionários. Entretanto, existe uma falta de coordenação entre os governos na hora de tomarem as decisões e efetivarem os decretos. Por vezes, eles podem até mesmo se contradizer, o que dificulta a atuação das empresas em um momento já repleto de desafios.

Uma das medidas que já está em vigor em diversas capitais é a restrição do número de clientes em um estabelecimento. Mas o prazo apertado para executar as adequações, ainda mais em um momento de surtos de demanda, exigiu muito dos gestores. Na visão de Julio Lohn, da Rede Brasil e do Grupo Mundial Mix, “nunca um governo teve tanta influência no nosso negócio. Cada tomada de decisão do governo tem um impacto enorme”.

Existe algum risco de desabastecimento?

Um desabastecimento na cadeia logística é o pior pesadelo para os gestores da indústria e do varejo, bem como para os consumidores. Saques de lojas, inflação, fome: as consequências de um desabastecimento podem ser catastróficas.

“Os EUA estão enfrentando dificuldades de produção. Trabalhamos com uma hipótese realista de que, com o avanço do contágio, vamos ter, sim, algum impacto operacional.”

Sidney Mazaro, Vice-Presidente Comercial, Vendas e Marketing da BRF

A BRF, uma das maiores indústrias do setor alimentício no país, está analisando de perto essa possibilidade. “Começamos a monitorar o que estava acontecendo lá fora. A Itália teve dificuldade de produção de alimentos. Os EUA estão enfrentando dificuldades de produção. Trabalhamos com uma hipótese realista de que, com o avanço do contágio, vamos ter, sim, algum impacto operacional”.

De acordo com o Vice-Presidente Comercial, Vendas e Marketing da BRF, Sidney Mazaro, o risco de paralisamento das fábricas é maior naquelas situadas no interior do país. “Temos fábricas em cidades muito pequenas, de 15 mil ou 30 mil habitantes. Algum contágio severo em uma cidade pequena como essas pode, sim, bloquear uma fábrica. A gente entende que o pior ainda está por vir”

A BRF garante, porém, que está tomando tomando as medidas possíveis para que esse cenário não se concretize. O mesmo se aplica à M. Dias Branco, empresa líder no país em fabricação de massas e biscoito.

“Em nossa fábrica tivemos 1 suspeita de caso. Até que o resultado fosse confirmado, afastamos 14 pessoas que entraram em contato. Se são funcionários da linha de produção, tem que substituir. Não tem como colocar uma pessoa de linha de produção para trabalhar de home-office”, afirmou o Vice-Presidente da M. Dias Branco, Rômulo Dantas.

Com isso, encerramos nosso resumo do terceiro webinar da SA Varejo. Para saber mais detalhes sobre como os gestores estão lidando com a crise, basta acessar o link abaixo e assistir a conversa na íntegra. 

Esse texto faz parte da nossa série especial sobre os impactos do coronavírus na indústria e no e-commerce. Gostou? Então, não deixe de conferir nossos conteúdos!

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Guilherme Marques

Publicitário pela UFMG, baiano com orgulho e apaixonado por cinema. Atualmente é graduando de economia e adora um bom papo sobre política.

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